terça-feira, agosto 15, 2023

o canto...

 


o canto apagado



no encanto de mais um dia, fechasse o domingo
    

a criançada já não corre no relvado,
    

são horas de recolher.
    

os barulhos do dia calam-se.
  

nem se escuta o ladrar de um cão.


    

o mar lá longe amoleceu e estendesse na areia,
   

embriagado, o vento sopra sem força,
  

apoio o rosto nas mãos.
   

e fico apática ao que me rodeia,
   

o olhar, fica preso a um passado


  

o frio avança, a noite que aproxima-se,
  

o corpo, é como um degrau na geometria
  

pernoito na memória que me abraça.
   

o coração é memória de saudades,
   

as palavras são voz nas ausências.


   

apagasse o canto, oculto o arrepio,
  

sem ti , a noite não tem valor


   

a cidade fica noutra ponta,
  

afasto o olhar, das certezas que me tocam


atravesso o silêncio num gemido de sonhos afastados…


   

  helena maltez. 

sexta-feira, agosto 11, 2023

horas...

 


horas

são horas...

não de partida, mas de chegada...

uma chegada assim, entre a luz

que encanta a cidade

de um tempo branco

os sonhos habitavam esse tempo

entre silêncios de angustia,

são horas, horas sem sombras

onde o poema se transforma

dentro do papel da memória.

o dia oxida a boca

desliza no corpo

estremece nas saudades do passado.

as cores mal pousam no dia

respiram pelas areias

onde a cidade descansa.

vozes despertam o vento

ressoam gestos violados

a chegada perde-se na rua

mas leva o sorriso do amor


nada se desfez

no dia que cresceu...



helena maltez


terça-feira, agosto 08, 2023

sem sumo...



 

sem sumo!

a cidade era uma laranja cinzenta, seca, sem sumo e extenuada dos anos, as cores agarraram o dia, cheio de imperfeições. não havia caminhos traçados, nem trilhos calcados. era o vazio que habitava o dia da laranja com cores .

os silêncios escutavam-se nas esquinas das casas desbragadas e preciosamente dormiam na poeira dos talentos
na rua já não brincavam as meninas,

o tempo passou por uma, mas ela não soube passar o tempo.
vivia na teimosia de uma vaidade sem prazos.
foi um outono de hábitos despida e um inverno de alma gelada.

entrou ao lado da primavera mas nem as flores brilharam,.
a menina da cidade de laranja quis ser verão com sabor a mar, mas nem o verão, nem o mar quiseram a menina das manias tresloucadas.

a outra menina partiu, foi viver a doçura da vida, na cidade sumarenta de sensações.

na cidade sem sumo o ar falava numa página de amor, o único esforço de vida de um tempo..
flutuavam gritos de silêncio num remexer estonteado de olhares de seres vegetativos

as palavras que ainda tinham vida, recordavam genuínos sentires de figuras prestigiosas, eram os amores das páginas colocadas no ser
secretos continuavam os olhares, queimavam e rescindiam o poder das cores agarradas à cidade seca.

a morte espreitava, andava à solta. queria a amiga da menina tresloucada
uniram-se as palavras, transfiguraram as alucinações em energia. os olhares conceberam corpo. luziram as cores. as mãos moldaram o esforço dos espaços diurnos e as pedras formaram o friso no princípio da razão

a menina da cidade sumarenta cresceu, foi mulher perfeita em sensibilidades. da sua janela fértil nascem palavras que fazem sorver amor

a cidade agora vive, fora da outra vida, inunde nomes rasgados de um ventre ligados à lua e ao sol

helena maltez 



domingo, julho 30, 2023

a espera...

 a espera…




o dia chegou puro.
os olhares falavam num silêncio
onde as palavras tinham todas um nome
e a eternidade se fechava sobre um corpo
parado nas águas, entre os espaços
para assistirem ao nascimento das árvores

o grito do verão ressoava entre formas mudas,
delicadas, impregnadas de delírios imaginários.
alguém parte o silêncio e o transforma
em sons vergados, sensíveis às palavras vivas,
atrás fica uma vida, remexida desabaladamente
numa leveza, estrangulada entre dedos

olhares bailam enfeitiçados sobre as áscuas...

murmuram ao longe, frases ríspidas e frias
o vento arrasta soprando as vozes em pedaços,
agarrando a vida, que deseja invencível
lento, leve e moroso deixa respirar o dia.
mergulha na alegria suplicante da voz
onde ardem, na alma, chamas de desejo
assumido num jogo de amor único

escapa-se o pensamento, afunda-se
dentro da paixão voraz,
espelhada no sorriso dum peito aberto
o fio liga a veia, no abraço da morte
triunfante, a festa tornou-se imortal,
sufoca de júbilo,
entre palavras que passam a correr

o momento, amadurece na terra
cativo do nome que persegue...


helena maltez





sábado, julho 22, 2023

mar...


 

Mar...

azul ,

ondas,

sal…

areia doirada

sol que encanta

gaivotas que bailam

vida numa ultima carta…

um tu indefinível

entre um abraço seguro,

vento que existe...

vem um sorriso,

com sensação de um sonho realizado.

magia que quebra e parte,

eternidade de um olhar

léguas que nos separam de um lugar

como rocha que a tudo resiste

na vida de alguém que permanece

uma lágrima que caí

e se derrete no mar...


helena maltez

sábado, novembro 19, 2022

tenho frio


 

estou com frio

a carne rasga-se, sangra.

estalam os ossos,

não querem ficar de pé


o luar tem o privilégio de passear na noite fria

vejo-o da janela do quarto

as sombras hoje são marionetas articuladas,

sigo-as com o olhar agitado


há um vazio enorme, perdido,

o frio grita na minha alma, no meu olhar


hoje tenho frio, faltam-me as tuas palavras


helena maltez

segunda-feira, novembro 07, 2022

sentires...


 

sentires!



acordas junto à sombra dos sentires

perdido no movimento azebre,

fulguras da tristura ocasional

de um tempo passado

sem prazer.



suave na sua mudez,

a terra olha-te em silêncio.



escutas a voz do perigo

entre o bem e o mal,

consegue pousar

do lado da luz

no frio que te dá ordens



do coração saltam feridas

devoradas pelo infinito



já nada sentes

embriagado na música inaudível,

expeles do teu corpo uma seiva amarga,

e imploras para renascer

de um ventre sem rosto




aguardas na praia que a maré vaze,

encontro-te...




dou-te a minha mão!



helena maltez

o canto...

  o canto apagado no encanto de mais um dia, fechasse o domingo      a criançada já não corre no relvado,      são horas de recolher....